Botswana, Foto T.Abritta, 2008

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Colossos de Menon


          Na Grécia Clássica os mortos eram sepultados de uma forma ritual, criando-se uma réplica do falecido na forma de um corpo insubstancial chamado Êidolon.  Para aqueles que morriam longe da pátria, dos parentes ou quando o corpo não era encontrado, construía-se um túmulo vazio com uma estátua ao lado, o Kolossós.  Este Colosso, como o próprio morto, é um duplo do vivo, atraindo a Psiquwe vagante transformando o morto em Êidolon.


Figura 1 - Estátuas representando Amenófis III (1417-1379 AC) - Tebas, Egito.  Os gregos da antiguidade clássica diziam ser um Kolossós do mítico rei Menon, desaparecido na Guerra de Troia e até hoje estes gigantes são conhecidas como Colossos de Menon. Foto T.Abritta, 1990.

          Estas estátuas foram descritas por Heródoto, Estrabão e muitos outros ilustres viajantes.  Na antiguidade, uma das estátuas emitia um triste lamento ao amanhecer e ao anoitecer (devido provavelmente às variações de temperatura em uma das fendas causadas pelos terremotos).  Mas tal lamento foi atribuído a uma saudação à deusa Aurora – a deusa dos dedos rosa, que abre a cortina do céu no amanhecer –, mãe de Menon, que obteve a dádiva de escutar a voz de seu filho, Rei do Egito, desaparecido na guerra de Troia.
          Depois de obras de restauração feitas pelo Imperador Romano Septimo Severo (193-211 DC.), os gemidos nunca mais foram escutados.

          Em certo sentido a fotografia funciona como um duplo do fotografado, um singelo Kolossós em papel.  Por outro lado, a sua deterioração física lembra-nos não da transitoriedade da vida como da fragilidade e constante transformação do mundo material.  Uma foto antiga, mesmo deteriorada e de baixa qualidade em sua concepção, sempre será considerada uma preciosidade ou obra de arte, pois é vista como um registro arqueológico, uma ruína que sobreviveu a uma deterioração temporal.  Esta ponte entre História, Arqueologia e Fotografia fica mais clara comparando-se a visão mais técnica de um arqueólogo com o olhar poético de uma escritora.

“Os resultados mais correntes da conduta humana, os dados arqueológicos mais vulgares, podem chamar-se artefatos, coisas feitas ou desfeitas por uma deliberada ação humana”, Gordon Childe.

“As fotos são, é claro, artefatos. Mas seu apelo reside em também parecerem, em um mundo atulhado de relíquias fotográficas, ter o status de objetos encontrados – lascas fortuitas do mundo, Susan Sontag.



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