Botswana, Foto T.Abritta, 2008

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Velocidade e Lentes



“É tanta rapidez que até deixa um vento para trás.
Na fotografia aparece só o rabo do cavalo.”
Caio, 5 anos, agosto de 2014.

          Esses comentários, usados como epígrafe dessa crônica, ilustram a dificuldade de “captar” movimentos, como fotografar uma corrida de cavalos no Jockey Club do Rio de Janeiro.  Hoje com a velocidade dos filmes da chamada fotografia química ou dos sistemas digitais, até na fotografia amadora pode-se congelar facilmente cenas de movimento.

          No passado, mesmo usando-se filmes de alta sensibilidade, obter fotos como a mostrada na Figura 1, não era trivial.  O fotógrafo tinha que incluir na cena, tanto os jogadores como a bola.  Era como usar uma arma de um tiro só, pois não havia tempo hábil de mover o filme para o próximo quadro.  Na década de 40, na câmara Leica, por exemplo, o transporte do filme era feito por enroscamento e não por alavanca como nos modelos posteriores deste equipamento – M2 e M3.

          Nas câmaras fotográficas atuais, a captura de imagens, como a mostrada na Figura 1, são facilitadas pelos sistemas de disparo automático com a obtenção de vários fotogramas em frações de segundos.


Figura 1 - A Bicicleta de Pelé.  Foto Alberto Ferreira, 1965.

          Outro avanço que contribuiu para estas facilidades foi o aperfeiçoamento no cálculo e fabricação de lentes. 
          As primeiras lentes eram polidas manualmente, o que demandava muito tempo, e as objetivas calculadas com o uso de tabelas de logaritmos.           Para projetar uma objetiva, como a mostrada na figura abaixo, levava-se muitos dias, resultando em uma pilha de quase meio metro de cadernetas com fórmulas, números e desenhos (*).  Somente no início dos anos 60 foram calculados os primeiros sistemas ópticos usando um computador IBM.



Figura 2 – Projeto de uma objetiva de 100 mm 
para a câmara de um Daguerreótipo, 1840.

          É interessante observar também, em face dos progressos relacionados à fotografia, que o primeiro registro escrito da tecnologia óptica vem da Bíblia.  Os primeiros espelhos eram feitos de placas de pedra polida e depois de placas polidas de cobre ou bronze e são descritos na antiguidade bíblica em Êxodo 38:8, onde se relata como Beseleel construiu um dos objetos do altar do santuário em Jerusalém: Fez uma bacia de bronze e a sua base com os espelhos das mulheres que serviam à entrada da Tenda de Reunião.

Nota:
(*) Eu tive a oportunidade de conhecer, na década de 80, uma pequena indústria óptica que funcionava no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro.  Fabricavam microscópios, diversos instrumentos científicos e balanças analíticas.  Tudo era projetado e calculado pelo proprietário (manualmente com o uso de tabelas de logarítmicos), que polia lentes, espelhos, bem como construía as partes mecânicas.  Este construtor óptico era tão criativo que nas “miras” das lentes oculares usava fios de teias de aranhas devido à regularidade microscópica nos seus diâmetros. 



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